“Enquanto estamos a lidar com os nossos problemas pequenos e mesquinhos (...) e em guerra entre religiões, entre países, entre povos, o mundo está a acabar.”

Entrevista a Yeşim Özsoy
e tradução para português por Ana Rita Rodrigues

30.12.2024

Contexto

Esbater uma fronteira para escrever sobre ‘novas realidades’ – esta é a premissa “Writing On New Realities”, um projecto dramatúrgico de colaboração internacional entre A Turma (Porto) e a GalataPerform (Istambul). Desenvolvido ao longo de dois anos através de laboratórios de criação e residências artísticas em ambos os países, o projecto iniciou com a primeira residência artística em Outubro de 2023, e desafiou os dramaturgos António Afonso Parra e Tiago Correia (A Turma) e Ferdi Çetin e Yeşim Özsoy (GalataPerform) a escrever uma peça partindo da premissa "novas realidades que vivemos hoje" e da procura de um teatro que esteja além do conceito de fronteira.

Foi assim que nasceram Fumo, de Tiago Correia; A Experiência, de António Afonso Parra; Delirium Aksak, de Yeşim Özsoy, e Adormeci em frente à televisão a pensar na origem da propriedade privada, acordei com voz do meu pai, de Ferdi Çetin. As peças portuguesas foram apresentadas a 23 de Novembro, no âmbito do IO International Theatre Festival, em Istambul, e a 7 de Dezembro foi a vez de apresentar as peças turcas em Portugal, sob a forma de leituras encenadas, dirigidas pelos dramaturgos e encenadores portugueses. O evento decorreu no âmbito do encontro da União de Teatros da Europa em parceria com o Teatro Nacional São João. Todas as peças têm tradução de Bengi de Sá Matos Paixão.

Ao longo das últimas semanas, conversei com cada dramaturgo sobre o trabalho que desenvolveram para este projecto, o que culminou numa série de quatro entrevistas, agora publicadas no Jornal d’ A Turma.

 

Introdução

Acordaste, tens a certeza disso. Sabes que acordaste porque a chávena do café está vazia e isso é sinal de que o bebeste; a camisa que tens no corpo está engomada – fizeste-o hoje de manhã, pouco depois de acordares, com certeza. Com a mesma certeza com que sabes tê-lo feito ontem, anteontem, e nos outros dias em que repetes um mesmo ritual. O teu corpo é a extensão da cadeira onde estás sentado à frente do computador; é através dele que trabalhas, abrindo de quando em vez uma nova janela, porque é irresistível o anúncio da terapia de ultimo modelo, como se estivéssemos a falar de um carro a um preço imperdível; o algoritmo que sabe que precisas mesmo de despertar e por isso te berra ao ouvido, ainda que tu garantas que já o estás. Abres ainda outra janela, onde lês as notícias que anunciam um dilúvio que não acreditas ser possível, e por isso negas o dilúvio, negas a notícia, negas a certeza dos que acreditas estarem enganados.

 

Dentro da notícia que afinal não fechas, como se afinal acreditasses que há nela um vestígio de verdade, surge-te outra janela, e ao fundo vês mesmo um dilúvio. O dilúvio de que falava a notícia – ei-lo agora, dentro dela. Visível e palpável. Finalmente, perguntas-te pela primeira vez se terás mesmo acordado, ou se isto é tudo um sonho; vês-te pela primeira vez como presa desse limbo ténue. A dormir ou acordado, tu sabes que vês o dilúvio ao fundo, aproximando-se, e consegues ainda nesse estado de vigília perguntar a ti mesmo: quantos de mim caberão no diâmetro de uma onda assim? Não sabes responder, por isso esqueces logo; mas sabes que é um número demasiado grande para que possas continuar perplexo a olhar o dilúvio aproximando-se, sem nada fazer. Sentes então o instinto na ponta dos dedos; nem um dilúvio é capaz de arrebatar-te ao ponto de o corpo esquecer o gesto mecânico: vais ao telemóvel e clicas na app de meditação que nunca te deixou mal. Ela não funciona, e tu sabes que já nem correr vale a pena. O dilúvio vem contra ti e tu permite-lo, porque reconheces agora que és parte de toda esta água que o formou; ele atingia-te já antes de agora o veres, mas estavas tão ocupado a lidar com as tuas importantes insignificâncias, que a única coisa a fazer era ignorar as notícias que acusavas de falsas. O teu corpo enrola-se agora na água de que fazes parte, e tu vais com ela, porque a não pudeste impedir.

E ainda achas que acordaste?

De olhos fechados, talvez para ver com maior clareza; sem certeza nenhuma do que é o sono, mas reconhecendo-o como o lugar que prefiro para esquecer o egoísmo e a nossa posição de passivos espectadores de dores que apelidamos de alheias, construo esta imagem, depois da leitura de Delirium Aksak, peça de Yeşim Özsoy. Sobre ela conversei também com a dramaturga, uma conversa que abaixo partilho.

 

Ana – Quando foste desafiada a escrever sobre ‘novas realidades’, quais foram os primeiros temas que te surgiram? Como foi o exercício de juntá-los numa só peça?  

Yeşim – Na nossa companhia, estamos focados no tema das novas tecnologias e na interdisciplinaridade. Temos realizado este tipo de projectos através de residências de criação e ao trazer a Istambul dramaturgos do exterior, para que possam traduzir peças, conduzir workshops e pensar sobre teatro a partir de outra perspectiva. Assim, o que desenvolvemos é local e feito na nossa língua, mas, ao mesmo tempo, também com a linguagem universal que é a do teatro. Acho que este tema no qual nos concentramos, sob o título ‘Writing on New Realities’, ressoa mais com essa universalidade do projecto, porque significa que há uma nova realidade que precisamos de compreender e pensar – não só a nossa, mas do mundo. Então, quando comecei a pensar no título principal e no que ele significa para a minha vida, o meu país, a minha geografia e também para o mundo, foram muitos os assuntos que começaram a ressoar e a vir à mente; assuntos que precisamos de explorar – especialmente agora, neste momento da História em que tantas coisas estão a acontecer – principalmente no mundo da tecnologia ao qual estamos expostos, e que não nos afectam tanto a nós como a outros países, simultaneamente – e o mundo, sucessivamente. Enquanto humanos, o que fazer?

 

A par disso, estamos expostos a uma nova onda de fascismos de direita e ditaduras que nos chegam sob a aparência de uma democracia. Há também um movimento feminista a considerar. Relaciono-me com todas estas questões porque vivo num país onde há um governo de direita há mais de 20 anos e que se tem tornado cada vez mais conservador. O aumento das democracias conservadoras que evoluem para ditaduras nos Estados Unidos da América (EUA), na Rússia, na Turquia, na Índia, na Hungria e outros países europeus, por exemplo, afecta-me profundamente, emocionalmente, quando penso na minha vida e no futuro dos meus filhos. Além disso, as mudanças na Inteligência Artificial (AI) também irão afectar-nos. Aliás, já começaram a ter impacto nas nossas vidas e irão afectá-las cada vez mais, mesmo que não estejamos plenamente conscientes disso, ainda.

Na verdade, esta peça é o regresso a outra que escrevi, chamada Aksak Istambul Hikayeleri. É geralmente traduzida como Limping Tales from Istanbul, porque ‘Aksak’ significa ‘algo / alguém que coxeia’. Senti que devia regressar a esta ideia, mas desta vez focando-a não apenas na realidade de Istambul; queria torná-la mais ampla. É claro que ela parte da nossa realidade, mas queria tentar alcançar outras realidades geográficas. Em particular no Sul da Turquia, há uma guerra constante nas fronteiras, o que nos afecta a nós – e, de certa forma, afecta toda a gente no mundo. Na peça, há uma personagem que tenta conseguir uma arma, mas… as guerras não acabarão a menos que todos sintam a mesma dor, as mesmas coisas. Quando se pensa nisto, parece algo muito simples. A imigração também é uma realidade. Até no nosso país: temos um grande fluxo migratório, oriundo da Síria, por exemplo. Ao mesmo tempo, somos vistos como "uma terra de transição; o mundo ideal da Europa".

 

Ana É comovente perceber que mesmo que história se passe numa realidade tão distante, há muitos pontos de encontro com o nosso contexto socio-político, como a ascensão da extrema direita e os direitos das mulheres. Essas também são questões aqui presentes, mesmo que sob uma aparente democracia. Há ainda tantas mulheres esquecidas e silenciadas que precisam de ser ouvidas. Há uma parte na peça onde escreves: “as mulheres desta terra estão sempre sozinhas”. Queria pedir-te que falasses um pouco mais sobre como é encarado este tema na Turquia.

Yeşim É sempre uma luta, mesmo quando és bem-sucedida. Por exemplo: geralmente sou descrita como uma mulher intelectual de Istambul, porque construí a minha própria companhia de teatro, sou directora, escrevo peças e tornei-me presidente de uma organização sem fins-lucrativos. Há também mulheres de negócios e muito poderosas, mas a questão é: de alguma forma, estás sempre sozinha, porque a sociedade não está alinhada com o sucesso ou com a ideia de uma miúda oriunda de uma família do Leste que pense de maneira diferente ou queira estudar mais. Conheci uma mulher que veio fazer a limpeza no escritório e me contou: “somos seis filhas e dois irmãos a dizer que não podemos receber nada da herança do nosso pai”. Por vezes, até a tua vida pessoal é afectada por seres forte ou bem-sucedida. É claro que não podemos comparar essa realidade com a de uma miúda vinda de uma família tradicional, no seio da qual é silenciada e luta; mas a luta é sempre essa: tens de fazer tudo sozinha; criar o teu próprio sistema de apoio. Latife Tekin, uma aclamada romancista, disse algo como: "as mulheres Amazonas lutaram contra os homens e perderam." Todas as religiões abraâmicas têm uma mesma raiz que não é generosa para com as mulheres; que esquece muitos aspectos relacionadas com a ancestralidade das mulheres. É poderoso pensar no facto de que é a mulher quem cria; quem dá à luz; quem elevou toda a humanidade até ao lugar onde estamos.<o :p></o>

 

« Mesmo sob opressão, somos livres para fazer e dizer o que quisermos, mas o que acontece é que há artistas e jornalistas presos por causa do que escrevem. Parece que és livre: ninguém pode dizer que as mulheres são obrigadas a cobrir a cabeça, a agir de forma mais conservadora ou a ser mais orientadas à família. Não há nenhuma lei que diga isso, mas há uma pressão social. »

 

Ana – Maria diz que vivem “num bairro conservador, em Fatih”, onde “todos se vigiam, todos espreitam para dentro das casas uns dos outros. Até se sair do bairro, não se anda livre, sente-se o peso de todos os olhares. E quando se sai do bairro, todos os olhos continuam postos nas tuas costas.” Esta vigilância é algo que se sente na Turquia? Como é que ela é imposta, sentida?

Yeşim – Há dois bairros: um é bastante tradicional, onde as pessoas usam véus e até burcas; o outro é Etiler, um bairro muito modernizado, localizado numa zona residencial e comercial de Istambul, fora da parte histórica. A sensação de estares a ser vigiado vem da ideia de que, faças o que fizeres, estás permanentemente a ser observado. No Irão, há polícia nas ruas a vigiar as mulheres para que usem véu. Na Turquia não é assim: somos ‘um país no meio’ – o único país secular onde a maioria da população é muçulmana. Mesmo sob opressão, somos livres para fazer e dizer o que quisermos, mas o que acontece é que há artistas e jornalistas presos por causa do que escrevem. Parece que és livre: ninguém pode dizer que as mulheres são obrigadas a cobrir a cabeça, a agir de forma mais conservadora ou a ser mais orientadas à família. Não há nenhuma lei que diga isso, mas há uma pressão social. Istambul é uma cidade onde consegues ver todos os fragmentos da Turquia: 20 milhões de pessoas numa cidade que é como a representação do país inteiro. Quando olhas para o oeste da Turquia, tens a região do Egeu e o Mar Mediterrâneo. Se lá fores, percebes que as pessoas não são muito diferentes dos nossos vizinhos gregos, por exemplo. Estão todos a beber e a divertir-se; é esta a maneira de estar na vida. Mas quando vais para Leste, para a fronteira com a Síria, já é outra história. Cada lado da Turquia é uma espécie de mosaico, algo que acontece particularmente em resultado do Império Otomano ter sido encolhido e transformado num único território, que é a Anatólia, e uma parte da Trácia, que inclui Istambul e seus arredores. Daí que consigas identificar diferentes estilos de vida a conviver em realidades paralelas.

(...) «esta chávena que tens na mão. Vieste à pastelaria e pediste um chá. Ou seja, não pediste a chávena; pediste chá. Estavas cansado e ias encontrar-te comigo. Quiseste passar o tempo e matar a sede. Mas não disseste: “Quero uma chávena.” Esta chávena, feita de material reciclado que contém plástico, foi-te trazida por um empregado que provavelmente teve de mudar de transporte pelo menos três vezes para chegar aqui ao trabalho. Agora estás a beber o chá que ele te trouxe. Enquanto houver chá e enquanto as pessoas o pedirem, haverá sempre uma chávena. A maioria das pessoas, que não pensam, não vai saber que a chávena que seguram, mesmo que pareça de cerâmica, contém plástico. Não vão saber que, enquanto esse plástico era produzido, outras pessoas de certeza que adoeceram, sofreram, ou que os oceanos e mares foram poluídos de uma forma irreversível, e que isso é um desastre. Não vão sentir que pode haver migrações e guerras por causa disso. Porque, nos poucos minutos livres das suas pequenas vidas, a única coisa que queriam era um café ou um chá. Quem é que pode imaginar que uma simples chávena pode levar a isto tudo?»

(Retirado de Delirium Aksak, de Yeşim Özsoy)

Ana – “Esperança” (ou a falta dela) parece-me ser uma das questões transversais nesta história. De certa forma, percebemos quais são as crenças de cada personagem em relação ao país, o que cada um ainda espera ou qual o grau de optimismo em relação à situação política. Como é que relacionarias a esperança com esta história?

Yeşim – Cada personagem tem uma perspectiva diferente. A política regional e mundial afecta-os, pelo que, provavelmente, eles têm visões distintas. Resumidamente, a peça foca-se na Arca de Noé e em histórias criadas à volta de um dilúvio, também citadas em Gilgamesh, nas tábuas de Atrahasis, nas tábuas da Babilônia, na Bíblia e no Alcorão. E termina de forma catastrófica. Chegámos a um ponto em que nos destruímos uns aos outros e o meio ambiente. Enquanto lidamos com os nossos pequenos e mesquinhos problemas, o mundo está a acabar. No geral, não parece haver esperança na peça, mas não a escrevi para dizer que ela não existe. Escrevi-a para criar uma consciência sobre o facto de que, enquanto estamos a lutar entre religiões, entre países, entre povos, o mundo está a acabar, e isso está a aproximar-se. O que fazer quanto a isso? Semelhante sucede com a metáfora da chávena de café: sentes que estás inocentemente a beber o teu café, de camisa vestida, a trabalhar ao computador e a tomar partidos nesta derradeira farsa de guerras e tragédias entre povos. Sentes-te mal com isso e fazes alguma coisa, mas isso acaba por não dar em nada. Ao mesmo tempo, é como se visses o dilúvio a vir contra ti, mas estás ocupado, a lidar com coisas tão insignificantes, se comparadas à história completa do mundo; ao que está a acontecer ao meio ambiente neste momento. 

 

“Esta não é a nossa guerra: está tão longe. Porque é que eu me haveria de importar?”

Ana – É por isso que Abraão diz: “enquanto tudo isto está a acontecer, eu estou só a observar, / Incapaz de me mover, / E no fundo, quero gritar”.

Yeşim – Exacto. No fundo, “quero gritar”. É isso que sinto e que a maioria de nós sente por acharmos que “esta não é a nossa guerra: está tão longe. Porque é que eu me haveria de importar?” Todas as religiões encaram Abraão como pai e principal fonte da humanidade. Mas até ele se sente impotente em relação a isso: “criei uma coisa, mas não imaginei que fosse assim.”

 

Ana – A dado momento, Agar diz a Maria: “a única coisa que quero é um amor a sério” (...) Se calhar estás a pensar: “Com tantos problemas que há e a tua preocupação é o amor?” Mas é que, para mim, não há outro caminho neste mundo. Se eu quisesse construir um país, destruía os outros todos e apagava todas as fronteiras.” Qual é a importância desta bandeira para Agar?

Yeşim – Agar faz muitas referências a Mevlana, um poeta sufista. E fá-lo porque, no Sufismo, o amor não é apenas dirigido a outra pessoa – é também em relação à criação de tudo e a Deus. Assim, sentir é ser capaz de amar, simultaneamente. Desprezamos muito o amor entre as pessoas. Se o amor fosse uma religião, acho que estaríamos melhor.

 

Ana – Depois, há uma longa lista de inúmeros tipos de terapia, como terapia regressiva, terapia quântica, leitura online de borras de café, retiro xamânico, aromaterapia, terapia com óleos essenciais, numerologia, e por aí fora. Qual era a tua intenção com esta lista?
Yeşim – Criei essa lista ao longo de muito tempo, com base no que ia ouvindo de pessoas e amigos. Estes tipos de "espiritualismo" tentam ajudar as pessoas a organizar as suas vidas, para que não fiquem tristes, não se sintam deprimidas, não se desviem do seu caminho e acabem a roubar ou a matar. A questão principal é que esses novos espiritualismos parecem surgir na forma de ‘religiões da nova era’ e estamos a tentar curar-nos a nós próprios através desses sistemas de crença. Acho que estão a surgir pequenos tipos de religiões em todo o lado, entre as pessoas, às vezes em pequenos grupos, outras vezes em grupos maiores, mas a cura é uma jornada. Não estou a dizer que todas essas terapias são uma treta, mas, ao mesmo tempo, são demais; por vezes, as pessoas ficam demasiado obcecadas com as suas "meditações". Eu faço meditação, faço yoga e acredito no trabalho com a respiração. Mas acho que as pessoas modernas adoptaram estas novas formas de espiritualidade como a sua própria forma de cura, porque não se sentem conectadas a encontros e explicações religiosas sobre a vida. E, como estás "modernizado", as coisas que estão no Alcorão ou na Bíblia, no Cristianismo ou no Judaísmo, não se encaixam na tua vida. Então, tentas encontrar algum tipo de significado, uma conexão com Deus e com quem tu és e como és. E é assim que desvias a tua atenção para esses tipos de sistemas de crença. Mas, claro, alguns deles funcionam muito bem.

 

Ana – É a capitalização do espiritualismo, com aplicações a aparecerem a toda a hora, aos gritos: "clica aqui, instala esta app e vais mudar a tua vida."
Yeşim –
Sim. Normalmente, se perguntares a um budista, ele faz a sua prática, mas não te cobra nada.

 

Ana – Mais à frente, Agar diz: “Nunca pensei que ia ouvir isso de si, Dona Sara. Todos podemos ser imigrantes de uma forma ou de outra, quando a vida nos obriga a isso. Podia ser a senhora. A senhora também podia ser uma “imigrante esfarrapada” se as circunstâncias a obrigassem a isso.” Relacionado com este pensamento, mais à frente, escreve-se sobre uma viagem ao Porto com uma amiga, Jasmim, que é “judaica, grega, turca, muçulmana e portuguesa.” Ela não fala português; ela tem um cartão de identificação português, um passaporte turco, cidadania canadiana e cabelo encaracolado.”

Yeşim – Quando olhamos para os nossos antecedentes, para o nosso background, percebemos que, de alguma forma, estamos todos ligados; somos apenas um. Esta ideia de países e nacionalidades está a separar-nos. Gosto da ideia de ter uma amiga assim, com múltiplas origens, com uma história que eu posso ouvir. Portanto, o que Abraão quer transmitir é que toda a humanidade está ligada. É absurdo que estejamos a tentar categorizar: Sabbatai, grego, judeu, português, turco, e por aí fora. Há muitas pessoas na Turquia que criticam a imigração e dizem que “precisamos de cuidar dos nossos próprios cidadãos”, e é assim que o fascismo cresce

 

« Sou um turista no Porto.

Vagueio, vagueio, vagueio, vagueio…

Ah, ah, lugares tão bonitos, tão bonitos, tão bonitos…

Perdi-me entre latas de sardinha no mercado.

Os locais começaram a odiar turistas.

Porque há tanto interesse na sua cidade, que é bonita,

Os malditos turistas consomem o espaço para viver e respirar.

Por isso tentamos não falar muito alto,

Tentamos esconder que somos turistas. »

(Retirado de Delirium Aksak, de Yeşim Özsoy)

Ana – E o turismo, era um tema importante para ti?

Yeşim – Sinto que o turismo é um problema. Também em Espanha, onde estão a votar contra a entrada de turistas. Por vezes, a vinda de pessoas é algo demasiado destrutivo. Ao mesmo tempo, as pessoas que vêm não estão a sentir o destino como ‘terra natal’. Vêm para consumir e vão-se embora. Há tempos, falava com um amigo que trabalha em hotelaria e estava a participar num investimento turístico, e ele contou-me que a Turquia é o quinto país do mundo em termos de número de turistas e o oitavo em termos de gastos. Sentimos que estão a vir demasiados estrangeiros com dinheiro e que estão a comprar apartamentos. Também temos muitos turistas da Arábia Saudita e do Qatar, pessoas muito ricas. Por outro lado, sem o turismo não nos conheceríamos uns aos outros. É um problema bidirecional, não nos sentirmos uns aos outros e não nos compreendermos verdadeiramente. Trata-se de saber como é que as sociedades e as pessoas se devem considerar ou cuidar umas das outras, penso. E também sobre a forma pela qual o governo actua neste domínio.

 

Ana – Há também uma parte em que a Maria quer ajudar a Sarah e diz: “Bom, é o meu trabalho. Mediação, direitos humanos. Trabalhamos para apoiar vítimas cujos direitos fundamentais, garantidos pela constituição, foram violados.”, ao que Sara responde: “Tem um trabalho engraçado. É um trabalho que não existe sobre uma coisa que não existe.”

Yeşim – Isto é algo que sentimos de forma aguda na Turquia, porque o sistema jurídico mudou: tínhamos um parlamento com primeiros-ministros e agora temos um regime presidencial. É como uma contra-revolução que aconteceu após a fundação da república de Ataturk. O Ministério do Direito foi muito afectado. Portanto, temos um problema na Justiça: muitos advogados e tribunais são muito afectados pela política e não sentimos sequer que haja justiça na Turquia. É semelhante ao que aconteceu nos EUA: elegeram Trump para presidente, mesmo sabendo que ele foi acusado de violação. Todas estas desigualdades e injustiças afectam as pessoas também a nível psicológico. Se não tivermos a ideia ou o sentimento de justiça, estamos perdidos, de alguma forma.

 

Ana – Abraão diz: “vivo num país muito rico! Tão rico que até os artistas são ricos, mas mesmo assim, é tão difícil ser artista!”. Qual é o ponto a ser criticado aqui?

Yeşim – Sentimo-lo a toda a hora, e Abraão está a criticá-lo. Quando viajamos para Londres ou para o Porto, é claro que sentimos que as pessoas também têm problemas nesses lugares. Mas quando se vem de um país que está perto do Médio Oriente, ou de outra realidade, essa realidade torna-se, por vezes, absurda para nós. É do género: “ok, tens um problema no que toca a sustentar-te enquanto artista; um país onde o apoio do governo é quase nulo ou inexistente no que diz repeito à criação e sustentabilidade de um teatro”. É como se fosse uma paródia, uma ironia, de alguma forma. Uma crítica ao facto de estarmos demasiado envolvidos em nós próprios quando enfrentamos um trauma e outros tipos de massacres e guerras; uma crítica ao facto de não sermos muito empáticos enquanto artistas.

Context

To destroy a border in order to write about ‘new realities’ – this is the premise of “Writing on New Realities”, a dramaturgical project of international collaboration between A Turma (Porto) and GalataPerform (Istanbul). Developed over two years through creative laboratories and artistic residencies in both countries, the project began with a first artistic residency in October 2023. It challenged playwrights António Afonso Parra and Tiago Correia (A Turma) and Ferdi Çetin and Yeşim Özsoy (GalataPerform) to write a play inspired by the premise of “the new realities we live in today” and the search for a theatre that transcends the concept of border.

From this project were born Fumo by Tiago Correia; A Experiência, by António Afonso Parra; Adormeci em frente à televisão a pensar na origem da propriedade privada, acordei com a voz do meu pai, by Ferdi Çetin; and Delirium Aksak, by Yeşim Özsoy. The Portuguese plays were presented on the 23rd November as part of the IO International Theatre Festival in Istanbul, and the Turkish plays were presented in Porto on the 7th December, in the form of staged readings, directed by the Portuguese playwrights and directors. This event happened during the European Theatre Union meeting, in partnership with Teatro Nacional São João. All plays have been translated by Bengi de Sá Matos Paixão.

Over the past few weeks, I have spoken to each of the playwrights about the work they developed for this project, culminating in a series of four interviews now published in A Turma’s Jornal.

 

Introduction

You just woke up, you are pretty sure of that. You know that you woke up because the cup of coffee is already empty and that is a proof that you really drunk it; the shirt you have in your body is already ironed – you did it this morning, slightly after you woke up, for sure. You say it with the same certainty that you know you did it yesterday, the day before and the rest of the days you repeated the same ritual.  Your body is the extention of the chair where you are sitted, in front of the computer; it is throught that machine that you are working, opening, time to time, a new window, because the latest model therapy advert is irresistible, as if we were talking about a car at an unmissable price; the algorithm that knows you really need to wake up and so shouts in your ear, even though you assure that you already are awaken. You open yet another window, where you read the news announcing a flood that you don't believe is possible, and so you deny the flood, you deny the news, you deny the certainty of those you believe are wrong.

Inside the news that you don't close after all – as if you believe that there is a trace of truth in it -, another window appears, and in the background you actually see a flood.The flood that the news told you about – here it is, inside the news. Visible and touchable. Finally, you wonder for the first time if you've really woken up, or if this is all a dream; you see yourself for the first time as a prey to this tenuous limbo between sleeping and waking up. Asleep or awake, you know that you see the flood at the bottom, approachin g you, and you can still ask yourself in that state of wakefulness: how many of me would fit in the diameter of a wave like that? You don't know the answer, so you forget it straight away; but you do know that it's too many for you to continue to stare at the approaching flood without doing anything. Then you feel the instinct at your fingertips; not even a flood can let your body forget of this mechanical gesture: you go to your smartphone and click on the meditation app that has never let you down. It doesn't work, and you realise it's not even worth running anymore. The flood is coming against you and you allow it, because you now recognise that you are part of all this water that has caused it; the water was already hitting you before you saw it now becoming a flood, but you were so busy dealing with your important insignificances that all you had to do was ignore the news that you accused of being fake. Your body is now rolling around in the water you were already part of, and you go with it, because you couldn't stop it.

And you still think you're awake?

With my eyes closed, perhaps to see more clearly; unsure of what sleep is, but recognising it as the place I prefer to forget selfishness and our position as passive spectators of the pain we call foreign, I constructed this image after reading Delirium Aksak, a play by Yeşim Özsoy. I spoke to the playwright about it, a conversation that I’m sharing share below.

 

Ana – When you were challenged to write about ‘new realities’, what were the first topics you wanted to talk about? How was that process of putting them together in just one play?

Yeşim – In our theatre, we are concentrated on new technologies and interdisciplinarity. And we have been doing this kind of projects, sometimes residencies and mostly inviting playwrights from abroad to go to Istanbul and translate plays; lead workshops and think about theatre in another perspective. So, we are connected in this realm of a theatre where we do something very local, with our language, but, at the same time, with the universal language of theatre. I think this subject, that we concentrated on under the title ‘Writing on New Realities’, resonates more to this universality of the project because it means that there's a new reality that we should understand and think about – not just our reality; but in the world. So, when I started thinking about the main title and what it denotes in my life, in my country and in my geography and also in the world, many things started resonating and coming to my mind; topics that we need to explore – especially now, at this time of the history or the world; so many things happening – namely in the world of technology, that we are exposed to and that affect us and other countries at the same time – and the world, successively. As humans, what must we do?

Meanwhile, we are also exposed to a new wave of right-wing fascists, dictatorships who are coming with the shape of a democracy. And also, there’s a women's movement to consider. And I'm connected to all of these questions, because I live in a country where there's a right-wing rule for over 20 years and which is becoming more and more conservative. The rise of conservative democracies evolving into these dictatorships in in the United States (USA), in Russia, in Turkey, in India, in Hungary and other other European countries, for example, actually affects me very much emotionally and also in terms of my life and my children's future lives. And also, the changes in Artificial Intelligence (AI) will affect us. It is starting to affect lives and it will affect them more and more, even if we are not really aware of that.

The play is actually the return to another play that I wrote, called Aksak Istambul Hikayeleri. It is usually translated as Limping Tales from Istanbul because ‘Aksak’ means ‘something / someone who limps’. I thought I should return to this idea, but not focusing only Istanbul; to make it wider. Of course, it stems out from our reality, but I wanted to try to reach out to other realities in the world too. Especially in the South of Turkey, we have a war in the borders all the time and that is affecting us – and everyone in the world, in a way. In the play there this person who is trying to have a weapon, but… the wars won't end unless everyone feels the same pain, the same things. When you think about it, that is something very simple. Immigration is happening as well. Even in our country, we have so many immigrations from Syria, for example. At the same time, we are considered as ‘a land to jump into; the ideal world of Europe’.

 

Ana – I found it really touching: even knowing that the story takes place at such a distant reality, there were so many contact points with our reality, namely the rising of extreme-right-wing and the women rights. Those are questions also here, even if we live in a government which has the face of a democracy. There are so many forgotten and silent women that must be heard. There’s a part in the play where it is written that “the women from this land are always alone.” I'd like to ask you to speak a bit more about how is that situation in Turkey.

Yeşim – It's always a struggle, even if you are successful. For example: I'm usually described as this intellectual woman from Istambul, because I built my own theatre company, I'm a director, I write plays and I became the president of a non-profit organization. There are also business and very powerful women, but the situation is: in some way, you are always alone, because the whole society is not in tune with success or with a girl in a family in the East who's thinking in another way or who wants to study more. I met a woman who's coming for cleaning in the office and she said: “we are six daughters and two brothers saying that we cannot have anything from the will of the father.” And sometimes even your personal life is affected by being too strong or too successful. Of course, it's not the same as a girl being in a very traditional family, being suppressed and struggling; but the struggle is always this: you have to do it on your own; to create your own support system. There is a very famous novelist, Latife Tekin, who said something like: ‘Amazons had a fight with the man and they lost it.’ All of the Abrahamic religions have the same root, which is not very good for the women. They forget many things that are related to women's ancestry too. I think it's a very powerful situation when you think about the fact that it is actually the woman who creates; who gives birth; who raised the whole humanity to where it is.

 

« Even in through the oppression, we are free to do and to say whatever we want, but there are things happening: artists and journalists being taken into custody because of the things they write. It looks like you are free: nobody can say that women are obliged to cover their heads, to act more conservatively or to be family-orientated. There is no law that says this, but it is a societal pressure. »

 

Ana – Maria says that they are living in “a conservative neighborhood, in Fatih” (…) where “everyone watches each other, everyone peeks into each other's houses. Until you leave the neighbourhood, you don't walk free, you feel the weight of all the eyes. And when you leave the neighbourhood, all eyes are still on your back.” Is this surveillance something that you feel in Turkey? How is it imposed, felt?

Yeşim – There are two neighborhoods: one is a fairly traditional neighborhood where people might wear more headscarves and even burkas; the other is Etiler, which is a very modernized neighborhood, located in a residential and business zone of Istanbul, outside the historical part. The sense of being surveilled is the idea that, whatever you do, you are being watched all the time. In Iran there is police on the street, surveilling the woman to wear the headscarf. In Turkey it’s not like that: we are ‘a country in the middle’ – the only secular country that has the majority of people from Muslim religion. Even in through the oppression, we are free to do and to say whatever we want, but there are things happening: artists and journalists being taken into custody because of the things they write. It looks like you are free: nobody can say that women are obliged to cover their heads, to act more conservatively or to be family-orientated. There is no law that says this, but it is a societal pressure. Istanbul is also a city where you can see all the fragments of Turkey: 20 million people in one city and it is like the representation of the whole of Turkey. When you look at the West of Turkey, you have the Aegean region and the Mediterranean Sea. You go there and you see that people are not much difference from our Greek neighbours, for example. Everybody is drinking, having fun.  It is the way of living there. But when you move to the East, to the Syrian border, it is another story. Every side of Turkey is like a mosaic, which happens especially because of Ottoman Empire being shrinked into one land, which is Anatolia, and part of Trace, which is part of Istanbul and beyond. Adjacently, you have very different kinds of lives living in parallel realities.

 

 (...) « this cup you have in your hand. You came to the café and ordered tea. In other words, you didn’t ask for the cup; you asked for tea. You were tired and coming to meet me. You wanted to pass the time and quench your thirst. But you didn’t say: “I want a cup.” This cup, made from recycled material containing plastic, was brought to you by a waiter who probably had to change transport at least three times to get here to work. Now you’re drinking the tea he brought you. As long as there’s tea and as long as people ask for it, there will always be a cup. Most people, who don’t think about it, won’t know that the cup they’re holding, even if it looks like ceramic, contains plastic. They won’t know that, while that plastic was being produced, other people certainly got sick, suffered, or that the oceans and seas were polluted in an irreversible way, and that this is a disaster. They won’t feel that there could be migrations and wars because of it. Because, in the few free minutes of their small lives, the only thing they wanted was a coffee or a tea.

Who could imagine that a simple cup could lead to all this?»

(Retrieved from Delirium Aksak, by Yeşim Özsoy)

 

Ana – To me, “hope” (or the lack of it) is one of the main subjects of this play. In a way, we get what are each character’s beliefs about the country, what they still expect or how optimistic they can still be towards the politics. How would you relate hope to this story?

Yeşim – Each character has a different perspective. The regional politics and the world politics affect them, so probably they have different ideas. This play is basically about the Noah's Ark and all of those stories of flood which are also cited in Gilgamesh, Atrahasis tablets, the Babylon tablets, in the Bible and in the Quran. It ends in a catastrophic way. We are at point where we are destroying each other, we are destroying the environment. As we are dealing with our petty and small problems, the world is ending. In general, it doesn't feel like there's hope in the play, but I didn't write the play to say that there is no hope, but to create awareness about the fact that, at the same time we are fighting between religions, between countries, between people, the world is ending, and it's approaching. So, what to do about that? It's the same thing with the metaphor of the cup of coffee: you feel very innocent, you're drinking your coffee, wearing your sweatshirt, working, using your computer and taking sides in this whole masquerade of wars and people's tragedies are happening. You are sorry about that and doing something, but it doesn't really affect anything. At the same time, it's like you're seeing this whole flood coming towards you, but you are dealing with all these small things, which are so minuscule when you think about the whole history of the world; about what's happening in our environment right now.

 

« It's not our war; it's so far away. Why should I care? »

 

Ana – That’s why Abraham says: “while all this is happening, I'm just watching, / Unable to move, / And deep down, I want to scream”.

Yeşim – Exactly. Deep down, “I want to scream”. That's what I feel, like what most of us feel because “it's not our war; it's so far away. Why should I care?” All religions consider Abraham as the father, the main source of all humanity. But even he is helpless in terms of that: “I created something, but then I didn't imagine it to be this way.”

 

Ana – There is also another part where Agar says to Maria: “the only thing I want is a real love. (…) you are probably thinking that, with so many problems that we have, your concern is love? But the thing is, for me, there is no other path in this world. If I wanted to build a country, I would destroy all the others and erase all the borders.” What’s the importance of this flag to Agar?

Yeşim – Agar's character actually cites a lot to Mevlana, a Sufi poet. And she's trying to create this because, in Sufism, love is not only towards the other person – It's also the love of the creation of everything, and also the love of God. So, to feel is to be able to love, at the same time. We disregard love towards each other people and very much. If it was a religion, we would have been better off, I think.

 

Ana – And then, there's a big list of numerous kinds of therapy, like regressive therapy, quantic therapy, online coffee grounds reading, shamanic retreat, aroma therapy, essential oil therapy, numerology, and so forth. What was your intention with this?

Yeşim – I created that list for a long time, from what I heard from people and friends. These kinds of ‘spiritualism’ are trying to make people organise their lives, so that you’re not sad or you don't feel depressed or you don't go out of your way and steal or kill. The main issue there is that these kinds of new spiritualisms like that appear like new age religions. And we are trying to heal ourselves through these belief systems. I think there are small kinds of religions appearing everywhere between each people, sometimes small groups, sometimes bigger groups, but healing oneself is a journey. I'm not saying that these are all bullshit, but, at the same time, it's too much; sometimes people are too obsessed about their ‘meditations’. I do meditation, I do yoga and I believe in breath work. But I think modern people took it as their own kind of heal, because they don't feel very connected to religious gatherings or explanations of life. And because you are ‘modernized’, the things that are in Quran or in the Bible, Christianity or any Judaism, don’t fit your life. So, you try to find some kind of a meaning, a connection to God and what you are and how you are. And that's how you divert your attention to those kind of belief systems. But, of course, some of them work very well.

 

Ana – It's the capitalisation of spiritualism, with apps popping out every time, like “click here, install this app and you will change your life.”

Yeşim – Yes. Normally, if you ask the Buddhist guy, he does his practice, but he won't charge you anything.

 

Ana – And then Agar says: “Mrs. Sarah, I would never imagine you saying this. We can all be immigrants in one way or another when life forces us to. You could also be a "ragged immigrant" if circumstances forced you into it.” Connected to this, further in the text, you speak about a trip you're making in Porto with a friend, Jasmin, who is “Jewish, Greek, Turkish, Muslim and Portuguese.” She doesn't speak Portuguese; she has “a Portuguese ID, a Turkish passport, Canadian citizenship and curly hair.”

Yeşim – When we look at our own descent or our background, we are all connected somehow; we are just one. This idea of countries and nationalities are separating us. I like the idea of having a friend like that, with multiple backgrounds, and from whom I can hear her story. So, Abraham wants to say that all humanity is somehow connected. It is absurd that we are trying to categorise: Sabbatai, Greek, Jewish, Portuguese, Turkish, and so forth. There are a lot of people in Turkey who criticize immigration and say that ‘we need to take care of our own citizens’, and that’s how fascism grows.  

 

« I'm a tourist in Porto.

I wander, I wander, I wander, I wander...

Ah, ah, such beautiful places, so beautiful, so beautiful...

I got lost among the tins of sardines in the market.

The locals began to hate tourists.

Because there's so much interest in their city, which is beautiful,

The damn tourists eat up living and breathing space.

So we try not to speak too loudly,

We try to hide the fact that we're tourists.»

(Retrieved from Delirium Aksak, by Yeşim Özsoy)

 

Ana – What about the tourism? Was it an important topic to speak about?

Yeşim – I do feel the idea that tourism is a problem. In Spain, too – they are voting against tourists coming in. People come in and sometimes that’s too destructive. At the same time, the people who are coming are not feeling it like a homeland. They come to consume and leave. Recently, I was talking to a friend of mine who is a hotel owner and was attending a tourist investment, and he told me that Turkey is like the fifth in the world in terms the number of tourists, and the eighth in the world in terms of spending money. We have this idea that too many foreigners are coming and they're buying the apartments because they have money. We also have lots of tourists from, of course, Saudi Arabia and from Qatar and very rich people and so forth. By another hand, without tourism we wouldn't know each other. It's a two-way problem, not feeling each other really and not really understanding each other. It’s about how should societies and people regard each other or take care of each other, I think. And also about how the government manoeuvres in this area.

 

 

Ana – There's also a part where Maria wants to help Sarah and says: ‘Well, that's my job. Mediation, human rights. We work to support victims whose fundamental rights, guaranteed by the constitution, have been violated’, to which Sarah replies: ’You have a funny job. It's a job that doesn't exist about something that doesn't exist.’

Yeşim – This is something that we feel acutely in Turkey, because the law system changed: we had the prime ministers and the parliament and now we have presidency. It’s like a counter-revolution that happened after Ataturk's republic foundation. In that way, the Ministry of Law got affected very much. So, we have a problema of justice. Lots of lawyers and courts are very affected by politics and we don't feel that there's somehow justice in Turkey. It's similar to what happened in the USA – they elect Trump for president even knowing that he's accused of rape. All of these inequalities and injustices affect people in a very psychological sense, too. If you don't have the idea or the feeling of justice, then you're lost, somehow.

 

Ana – Abraham says: “I live in such a rich country where everyone is rich, even the artists, and yet it's so hard to be an artist.” What is the point being criticised here?

Yeşim – We feel that way all the time. Abraham is criticising it. When we travel to London or Porto, of course we feel that people have problems there too. But when you are coming from a country that is near Middle East, or you're from another reality, then that reality becomes sometimes absurd to you. It's like: “okay, you have a problem of sustaining your life as an artist, which is, in our country, the government's support is almost zero to none in terms of building a theatre and sustaining it.” So, it's like parodic, ironic, somehow. A criticism of being too much involved with ourselves when facing a trauma and other kinds of massacres and wars; a criticism of being not very empathetic as artists.