“Os ecos da memória, os ecos do tempo. Espero por ti no lago; à beira do lago”

Entrevista a Hằng Hằng
Por Ana Rita Rodrigues | Tradução para português por Ana Rita Rodrigues e Sílvia Duarte

18.11.2024

Estás na rua, apenas de passagem, e reparas numa janela que te parece diferente; que tem o vidro forrado de manuscritos, a sugerir que alguém aí os colocara por uma razão. Ficas curioso. Vês uma porta e decides entrar. Entras. Chegas a uma sala onde há sinais e pistas a indicar que alguém tem passado tempo a pensar e a re-imaginar este espaço. Vês um lago feito de tecido. Escutas um clarinete — um som que chega até ti na forma de uma língua nova. Perguntas-te quem será uma das pessoas que vês à beira do lago, aparentemente apenas olhando a sua superfície, mas o lago fala-te, como se a invocar histórias de família que vêm de um lugar mais fundo que ele; de um lugar permeável às “mágoas e tristezas inter-geracionais” do seu povo; mágoas e tristezas que jamais sentirás mas que a empatia e o poder de relativismo cultural te permitem chegar mais perto; fazer um esforço por entender. Ela fá-lo para assim compreender melhor a história do país onde nasceu; perceber-se a si mesma – interrogar a sua existência.

Mais do que entrar numa sala, estás a entrar num lugar guardado na memória de quem vês, como se o chão que os teus pés pisam fosse, na verdade, o chão da memória de quem criou o espaço que és agora chamado a percorrer; no íntimo de quem te guiou por entre o complexo labirinto que é a nossa memória, convidando-te a entrar. Esclareço-te: a pessoa que vês é Hằng Hằng, a artista que chamámos no âmbito do programa InResidence2024, para n’ A Turma desenvolver ao longo de dois meses o projecto At the Pond’s Edge. Conversei com ela sobre o seu trabalho e sobre os seus temas fracturantes, que falam de memória, trauma, linguagem, patriarcado e arquivo, e que abaixo vos conto.

 

Ana Como é que te iniciaste neste mundo?

Hng Hng Nasci numa aldeia perto de Hanoi, onde não existem teatros ocidentais, apenas as épocas festivas tradicionais. Nesse pequeno palco comunitário, fui primeiramente introduzida às artes performativas tradicionais do Vietname, como Chèo (teatro popular), Cải Lương (reformed theater), e Quan họ (de música folk), com intérpretes que faziam serenatas a partir de barcos no lago da aldeia. Ainda me lembro da multidão a apertar-se, de ver toda a gente ansiosa por assistir ao espectáculo. Em pequena, ainda não compreendia bem os espectáculos, mas agora sinto-me afortunada por ter essas memórias — a imagem de formas de arte tradicionais que já não se ouvem por aí. Com o tempo, este palco transformou-se num espaço para actuações locais de crianças e residentes que, embora não fossem artistas profissionais, partilhavam a paixão pelas artes do espectáculo.

O meu primeiro encontro com o teatro ocidental veio quando estudei Cenografia e vivi em Paris, onde descobri várias formas de arte, incluindo as artes performativas.

Considero-me uma pessoa tímida.  Não estou confortável com o meu corpo nem a falar com outras pessoas — mas é por isso que tento encontrar as minhas próprias maneiras de criar nas artes performativas.

 

Ana Que transição ocorreu quando te mudaste para Paris? Como foi este período? 

Hng Hng Cheguei a França com 19 anos, há quase 10. Passei os dois primeiros anos a explorar várias formas de arte, incluindo design, artes performativas e artes visuais, ao mesmo tempo que me preparava para o exame de entrada na escola. Depois, estudei Cenografia na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs (ENSAD), focando a cenografia para teatro, mas também para museu, cinema e eventos. Apesar disso, não me vejo apenas enquanto cenógrafa, mas sim enquanto artista, interessada em explorar a interferência entre artes performativas e performance. Esta foi uma fase importante para mim, que me permitiu experimentar, ganhar experiência na prática artística e abraçar a independência.

 

Ana Como é que explicarias a diferença entre artes performativas e arte da performance a quem não sabe?

Hng Hng Acho que a principal diferença incide na forma pela qual o corpo é percepcionado em cada forma. Nas artes performativas — como teatro, dança, música e ópera — o corpo, a voz ou a presença servem como principal meio de expressão, criando personagens, histórias e movimento. Por outro lado, na arte da performance, como parte da arte visual, o corpo é tratado enquanto sujeito e objeto. Muitas vezes, ultrapassam-se os limites, incentiva-se a interação do público e interage-se diretamente com as realidades sociais, normalmente in situ.

Há várias definições que vêm evoluindo com o tempo, e as fronteiras entre elas estão a tornar-se incrivelmente fluidas.

 

“Eu espero que a minha micro-história ressoe nos outros. (...) O meu trabalho artístico é sobre trauma subtil e silencioso.”

 

Ana No teu trabalho anterior, vens explorando os traumas inter-geracionais do povo vietnamita, que sofreu guerras, conflitos violentos, deslocações e uma cultura de patriarcado. Quando é que começaste a questionar estes assuntos?

Hng Hng — A palavra “trauma” parece tão pesada quando penso sobre ela. Estou ainda à procura de outras palavras para descrever o meu trabalho — talvez mágoas ou tristezas inter-geracionais (?)

Tudo isto começou com uma história que o meu avô contou sobre a história da nossa casa de família. A forma pela qual ele a contou fá-la parecer mais um conto de fadas que um trauma, e isso motivou-me a querer aprender mais sobre a minha existência, sobre a minha família e sobre o Vietname. Espero que a minha micro-história ressoe nos outros.

O trauma pode assumir muitas formas. Pode manifestar-se enquanto algo pesado à superfície, enquanto que, noutros casos, permanece silencioso, aparentemente invisível, recusando explicações, mas inegavelmente presente. A minha família é calma, mas consigo sentir a tristeza transmitida através das gerações - talvez seja apenas fruto da minha imaginação, mas confio na minha sensibilidade. O meu trabalho artístico é sobre trauma subtil e silencioso.

 

“As guerras no Vietname acabaram (...) mas os seus efeitos persistem eles infiltram-se na minha língua e na minha voz, moldando-me para sempre.”

 

Ana — Cada cultura tem as suas próprias experiências de trauma, com as suas características particulares — no caso da história portuguesa, há ainda um trauma colectivo que remete para o tempo de ditadura. Achas importante discutir-se trauma, aqui? Cruzar essas experiências de trauma?

Hng Hng Acho que é importante que se fale disso no Porto como em qualquer lugar até com pessoas saturadas ou cansadas de o discutir. As guerras no Vietname acabaram, e eu cheguei a pensar que isso seria irrelevante para a minha geração, e mesmo a evitar conversar sobre o assunto. Mas os seus efeitos persistem, hoje – eles infiltram-se na minha língua e na minha voz, moldando-me para sempre. E o conflito persiste noutras partes do mundo.

A minha história é apenas um pixel de uma imagem maior; meramente uma voz e um fragmento da verdade. É essencial escutar vozes de diferentes gerações, línguas e perspectivas, expressas de diferenças formas — especialmente em países dominantes.

Quero citar uma frase do livro Women, native, other, de Trinh T. Minh Ha: “A história tem de ser contada, e não pode haver mentiras”.

 

Ana Acho que é importante mapear e identificar traumas diferentes, com base em histórias diferentes. Estas perspectivas sobre trauma são algo que se estuda no Vietname? Que está presente nos livros de História?

Hng Hng As histórias que vêm nos livros ou em fontes oficiais não formam a “imagem completa”. Não podemos tratá-las como fixas ou absolutas. Precisamos de perspectivas diferentes para chegar a uma compreensão mais completa. É por isso que trabalho com história oral e micro-história.

 

Ana Focando At the Pond’s Edge: esta imagem de um lago é algo que vem de uma memória antiga? É a primeira vez que a incluis no teu trabalho artístico?

Hng Hng Esta é a primeira vez que trabalho com a imagem de um lago, mas ela tem estado sempre presente na minha memória. Entrar na vila e passar pelo lago fez parte do meu caminho diário de regresso a casa. O lago era também um lugar onde eu brincava com os meus amigos de infância - os ecos da memória, os ecos do som, chamando alguém para que viesse, para que aí nos encontrássemos: “espero por ti no lago; à beira do lado.”

 

Ana O lago como um ponto de encontro. Será também uma metáfora para as tuas memórias / para a tua infância?

Hng Hng Sim, é um ponto de encontro com outros, mas também um ponto de encontro comigo. Adoro passar tempo sozinha no lago, sem fazer nada - apenas a observar a superfície, o que o rodeia, e a ouvir os sons. É um espaço raso onde a luz pode entrar, o que por vezes me permite ver ainda mais fundo.

 

“Quero convidar o público a reflectir sobre o poder da língua e sobre como ela é moldada por legados coloniais, conflitos e convulsões contemporâneas”

 

Ana E esta imagem específica de duas mulheres à beira do lago, de onde vem?

Hng Hng O som e a linguagem desempenham um papel crucial nesta performance. Duas mulheres, à espera uma da outra na margem do lago, falam em línguas diferentes. As suas vozes e línguas aparecem separadamente ou em paralelo, com uma potencialmente ecoando a outra. Aqui não se fala português e o público será colocado no meu lugar - como um estrangeiro dentro da performance. Quero convidar o público a reflectir sobre o poder da língua e sobre a forma como esta é moldada por legados coloniais, conflitos e convulsões contemporâneas.

 

Ana O que é que te fez começar a trabalhar neste projecto sobre a língua, em particular sobre a língua nacional vietnamita? Quais foram os teus pensamentos iniciais?

Hng Hng Comecei por pensar sobre a língua através da minha experiência de precisar constantemente de aprender línguas novas. Se as pessoas vierem ao Vietname e falarem inglês, eu tenho de aprender inglês para comunicar com elas. Mas, se eu viajar para outro país, não há qualquer expetativa de que as pessoas falem vietnamita. Isto levou-me a questionar o poder da língua e os desafios da tradução, particularmente a forma pela qual a língua resiste à tradução.

Desta vez, pergunto a mim mesma: de onde vem a língua que eu falo? E aí percebi:  é uma questão complexa.

Decidi ir a Lisboa e visitar a Biblioteca da Ajuda. Aí encontrei manuscritos e cartas do Padre Francisco de Pina, o missionário jesuíta português a quem se atribui a criação da primeira escrita romanizada do vietnamita para representar a língua falada, substituindo uma escrita mais antiga, baseada em ideogramas chineses. Descobri também outros arquivos dos missionários Gaspar do Amaral e Alexandre de Rhodes. Estou grata pela oportunidade de consultar estes arquivos e de tirar proveito do estudo científico da língua.

No entanto, não estou certa se deva encarar a transição da minha língua como um progresso cultural ou uma agressão cultural. Este é apenas o início da minha investigação, e esta história parece não ter fim.

 

Ana No final de Novembro, vais apresentar uma amostra do que tens vindo a desenvolver durante este tempo em residência n’ A Turma. O que podemos esperar desse momento?

Hng Hng Este trabalho é desenhado não apenas à luz do que imaginei, como também dos arquivos que estudei. Espero trazer as pessoas para o meu espaço imaginativo através da poesia, do tecido, do som e das narrativas, ao mesmo tempo que as encorajo a reflectir sobre o seu próprio espaço. Não quero que as pessoas se limitem a ficar no chão e a perceber a história tal como ela é; quero que elas voem, também.

 

Ana — Nesta performance há uma dimensão poética que se enreda noutras expressões artísticas. Daquilo que sei, a combinação de diferentes formas de arte é algo que costumas fazer. Quais são os desafios de combinar estas diferentes linguagens? Como é que a Poesia se liga ao conceito de arquivo e te ajuda a falar sobre estes temas?

Hng Hng A poesia, juntamente com as práticas manuais e visuais no espaço, guia-me para uma imaginação poética que outras formas nem sempre me permitem exprimir plenamente. Enquanto isso, os arquivos ajudam-me a compreender o contexto e a história do que estou a investigar. O desafio está em fazer escolhas, pois tenho muitas opções à minha disposição. Estou a aprender a escolher e, acima de tudo, a lembrar-me de que não preciso de expressar tudo num só trabalho - tenho tempo para isso.

 

Ana — Achas que este tipo de fundos ou oportunidades de ir para outro lugar e desenvolver um trabalho artístico são importantes? Neste caso, qual foi a importância desta bolsa para o desenvolvimento do teu trabalho? 

Hng Hng A parte interessante de ir para outros países é que é como respirar ar fresco para a criatividade e tornar-se mais adaptável a situações imprevistas. Há sempre perspectivas diferentes; formas diferentes de falar e de trabalhar. Tenho novos amigos, escuto português e experimento diferentes ambientes, paisagens e a arquitetura de figuras como Siza Vieira e Souto Moura.

Aqui, n'A Turma, não há pressão. Tenho a black box e a white box para trabalhar, um sítio para descansar, tempo e apoio financeiro para fazer o que quero. Posso trabalhar neste espaço calmo, mas também posso ir lá para fora, para a praia, por exemplo; trabalhar e reflectir.

 

Ana — Sobre o workshop de cianotipia e as técnicas de blueprinting: é algo em que já trabalhaste no passado?

Hng Hng Fiz alguns workshops em Paris para adultos e crianças com diferentes técnicas, incluindo a cianotipia. Quero propor ao público d' A Turma uma cianotipia experimental porque esta técnica também está relacionada com o trabalho que aqui estou a desenvolver. A partir do manuscrito e do mapa, quero encontrar uma forma de reproduzir o arquivo e interessa-me o processo da cianotipia: preparar, reunir materiais, aplicar produtos químicos, secar, expor à luz do sol, lavar, secar de novo e, finalmente, aplanar. Este processo tanto reproduz os documentos como está aberto a perturbações: calcula-se a quantidade de químicos, considera-se o processo de criação, o tempo sob a luz do sol, e depois aparece de uma forma que não podemos controlar totalmente.

 

Ana — Há uma alusão ao equilíbrio, porque a imagem final depende da quantidade de tinta que se coloca.

Hng Hng Sim, sabemos o que queremos, mas ao mesmo tempo não sabemos exactamente.

Ana — Isso é tão bonito. Colocamos o futuro nas mãos da natureza.

 

 

You are in the street, just passing by, and you look to a window that might look different: it has a glass made of manuscripts, suggesting that someone was putting them there for a reason. You are curious. You see a door and you decide to go inside. You go inside. You arrive in a room with signs and clues suggesting that someone has been spending time in this room, thinking about its space and reimagining it. You see a pond made of fabric. You listen to a clarinet — a sound that comes to you with the shape of a new language. You ask yourself who is the person you see at the edge of the pond, apparently just looking to its surface, but the lake speaks to you, as if invoking family’s stories that are coming from a place deeper than the lake; from a place permeable to the “ intergenerational sorrows or sadness” of her people; sorrows and sadness that you will never be able to feel, but that your empathy and your cultural relativization allow you to get closer and better understand. She is doing it in order to understand the History of the country where she was born; wondering about herself — about her existence.

More than entering into a room, you are entering into a place saved in her memory, as if the floor your feet are touching was actually the field of the memory of who has created this space that you are now invited to walk in; in the intimate wondering of who has guided you between the complex labirith that is our memory, inviting you to come in. I clarify you: the person you see is Hằng Hằng, the artist we called for the InResidence2024, in order to develope the project At The Pond’s Edge, during an artistic residency at A Turma. I spoke to her about her work and its main topics, as memory, trauma, language, patriarchy, archive. I share it with you, below.

 

Ana — When and how did the performing arts come into your life?

Hng Hng I was born in a village near Hanoi, where there were no Western-style theaters, only traditional festive seasons. At the small community stage, I was first introduced to the traditional Vietnamese performing arts, like Chèo (popular theater), Cải Lương (reformed theater), and Quan họ (folk singing), with performers serenading from boats on the village pond. I can still recall the crowd pressing in, everyone eager to see the performance. I didn’t fully grasp the performances when I was small, but now I feel fortunate to have those memories —the image of traditional art forms that are no longer heard there. Over time, this stage transformed into a space for local performances by children and residents who, though not professional artists, shared a passion for the performing arts.

My first encounter with Western theater came when I studied set design and lived in Paris, where I discovered various forms of art, including performing arts.

I think of myself as a timid person. I'm not comfortable with my body, and I'm not comfortable talking to other people — but that’s why I try to find my own ways to create performing art.

 

Ana — What was the transition when you moved to Paris? How was that period for you?

Hng Hng I first arrived in France when I was 19, nearly ten years ago. I spent two foundation years exploring various art forms, including design, performing arts, and visual art, while preparing for my art school entrance exam. Afterward, I studied set design at École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs (ENSAD), focusing on theater, as well as museums, cinemas, and events. However, I see myself not only as a set designer but also as an artist, and I am interested in exploring the interference between performing arts and performance art. It was an important phase for me to experiment, gain experience in practicing art and embrace independence.

 

Ana — How would you explain the difference between performing arts and performance art to someone who doesn't know it?

Hng Hng I think the main difference lies in how the body is perceived in each form. In performing arts — such as theater, dance, music, and opera—the body, voice, or presence serves as the primary medium of expression, creating characters, stories, and movement. On the other hand, performance art, as part of visual art, treats the body as both subject and object. It often pushes boundaries, encourages audience interaction, and directly engages with social realities, typically in situ.

There are various definitions that have evolved over time, and the boundaries between them are becoming increasingly fluid.

 

“I hope my micro-history resonates with others. (...) My artwork is about quiet, silent trauma.”

 

Ana — In your previous work, you've explored the intergenerational traumas of Vietnamese people who have endured wars, violent conflicts, displacement, and patriarchy. When did you start questioning these issues?

Hng Hng The word "trauma" feels so heavy when I think about it. I’m still searching for other words to describe my work — perhaps intergenerational sorrows or sadness (?)

It all started with a story my grandfather shared about the history of our family’s house. The way he tells it feels more like a fairy tale than a trauma, and it motivated me to learn more about my existence, my family and Vietnam. I hope my micro-history resonates with others.

Trauma can take many forms. It can manifest as something heavy on the surface, while in other cases, it remains silent, seemingly invisible, refusing explanation, yet undeniably present. My family is quiet, but I can feel the sadness passed down through generations — though perhaps it’s just my imagination but I trust in my sensitivity. My artwork is about quiet, silent trauma.

 

"The wars in Vietnam have ended (...) but its effects persist — seeping into my language and my voice ; shaping me forever."

 

Ana Each culture has its own unique experiences—such as Portugal's history with dictatorship — we are also living through a form of collective trauma, though with different characteristics. Do you feel it's important to address this topic here? Do speak about different traumatic experiences?   

Hng Hng I think it's important to talk about it in Porto but also everywhere, even when people feel saturated or tired of discussing it. The wars in Vietnam have ended, and I once thought it was irrelevant to my generation, even wanting to avoid talking about it. But its effects persist today — seeping into my language and my voice; shaping me forever. And the conflict persists in other parts of the world.

My story is just a pixel in a larger picture; merely one voice and a fragment of the truth. It’s essential to listen to voices from different generations, languages, and perspectives, expressed in diverse forms—especially in dominant countries.

I want to cite a phrase from the book Women, native, other by Trinh T. Minh Ha: “The story must be told, and there must not be any lies”.

 

Ana — I think it's important to mark different traumas, different stories.

Are these perspectives something you study in Vietnam? Are they included in the History books?

Hng Hng The stories in books or those from official sources are not the whole picture. We can't treat them as fixed or absolute. We need different perspectives to gain a fuller understanding. That's why I work with oral history and microhistory.

 

Ana — Focusing on your work, At the Pond’s Edge: is the image of the pond something that comes from an old memory? Is this the first time you’ve worked with it in your creative process?

Hng Hng This is the first time I’ve worked on the image of the pond, but it has always been in my memory. Everyday, I entered the village and passed by the pond on my way home. That was also a place where I played with my childhood friends—the echoes of memory, the echoes of sound, calling someone to come over, to meet: "I’ll wait for you at the pond; at the edge of the pond”.

 

Ana The pond as a meeting point. Is it also a metaphor for your memories or your childhood?

Hng Hng Yes, it’s a meeting point with others, but also a meeting with myself. I enjoy spending time there alone, doing nothing—just observing the surface, the surroundings, and listening to the sounds within. It’s a shallow space where light can penetrate, sometimes allowing me to see even deeper.

 

“I want to invite spectators to reflect on the power of language and how it is shaped by colonial legacies, conflicts, and contemporary upheavals”

 

Ana What about this specific image of two women in the pond? Where does it come from?

Hng Hng Sound and language play crucial roles in this performance. Two women, waiting for each other at the edge of the pond, speak in different languages. Their voices and languages appear either separately or in parallel, with one potentially echoing the other. Here, Portuguese will not be used, and the audience will be positioned to stand in my place — as a foreigner within this performance. I want to invite spectators to reflect on the power of language and how it is shaped by colonial legacies, conflicts, and contemporary upheavals.

 

Ana What inspired you to start working on this project about language, specifically the Vietnamese national language? What were your initial thoughts?

Hng Hng I began thinking about language through my personal experience of constantly needing to learn new languages. If people come to Vietnam and speak English, I must learn English to communicate with them. But when I travel to another country, there’s no expectation for people there to speak Vietnamese. This led me to question the power of language and the challenges of translation, particularly the way in which language resists translation.

This time, I ask myself a simple question: where does the language I speak come from? And then I realized — it’s a complex question.

I decided to come to Lisbon and visit the Biblioteca da Ajuda, where I found manuscripts and letters by Father Francisco de Pina, the Portuguese Jesuit missionary credited with having created the first Romanized script for Vietnamese to represent the spoken language, replacing an older script based on Chinese ideograms. I also discovered additional archives from the missionaries Gaspar do Amaral and Alexandre de Rhodes. I’m grateful for the opportunity to view these archives and appreciate their scientific study of language.

However, I’m unsure whether to view the transition of my language as cultural progress or cultural aggression. This is just the beginning of my research, and this history seems to have no end.

 

Ana At the end of November, you will present us with a glimpse of what you have been working on here. What can we expect from that?

Hng Hng This work draws not only from my imagination but also from the archives I studied. I hope to take people into my imaginative space through poetry, fabric, sound, and narratives, while encouraging them to reflect on their own. I don’t want people to just stay on the ground and understand the story as it is; I want them to fly as well.

 

Ana We’ll be seeing poetry intertwined with other artistic expressions. From what I know, combining different art forms is something you often do. What are the challenges of bringing these different 'languages' together? How do poetry and the concept of the archive help you to speak about these themes?

Hng Hng Poetry, along with manual and visual practices within space, guides me to a poetic imagination that other forms sometimes cannot fully express. Meanwhile, the archives help me understand the context and history of what I am researching. The challenge lies in making choices, as I have many options at my disposal. I am learning to choose, and above all, I remind myself that I don’t need to express everything in one work—I have time for it.

 

Ana — Do you think this kind of financing or opportunities to go abroad and to develop a work are important? In this case, what's the importance of this to you?

Hng Hng The interesting thing about going to other countries is that it feels like breathing in fresh air for creativity and becoming more adaptable to unforeseen situations. There are always different perspectives, ways of speaking, and ways of working. I have new friends, I hear Portuguese and experience different environments, landscapes, and the architecture of figures like Siza Vieira and Souto Moura.

Here, in A Turma, there’s no pressure. I have the black box and the white box to work in, a place to rest, time, and financial support to do what I want. I can work in this quiet space, but I can also go outside, to the beach, for example; to work and to reflect.

 

Ana — What about the workshop, the cyanotype, and the blue printing? Is this something you have been working on in the past?

Hng Hng – I made some workshops In Paris for adult and childrens with different techniques, including cyanotype. I want to propose to audiences of A Turma to have an experimental cyanotype because it is also related to my personal work here. From the manuscript and the map, I want to find a way to reproduce the archive and I am interested in the process of cyanotype: preparing, gathering materials, applying chemicals, drying, exposing to sunlight, washing, drying again, and finally flattening. This process both reproduces the documents and is open to disturbances: you calculate the amount of chemicals, consider the creation process, the time under sunlight, and then it appears in a way that we cannot fully control.

 

Ana — There is something about balance, because the final image depends on the amount of ink that you put.

Hng Hng Yes, we know what we want, but at the same time we don't know exactly.

Ana — That's so beautiful. So we put the future of it in the hands of nature.