Estás n' A Turma, companhia de teatro sediada no Porto, Portugal. Ao fundo deste espaço, vês uma sala preta vazia, onde notas que há um corpo a passar as tardes. Sentado no chão, com papel e caneta, o corpo pensa, desenha, escreve. Dirias que este corpo está a preparar alguma coisa, e, se o dissesses, terias razão: lentamente, este espaço torna-se o seu espaço, um habitat temporário. Tu vês, mas não queres incomodar, por isso fechas suavemente a porta, à espera do momento certo para fazer perguntas. Fui essa pessoa durante alguns dias, observando, tentando suspender a minha curiosidade e respeitar o tempo que o corpo precisava até ao momento de me dar a conhecer o que estava a ser semeado naquele solo; o que estava prestes a nascer daquele papel que a vi embalar ao longo de oito semanas. Talvez a estivesse a espiar; talvez espiar seja um gesto inevitável a todo o ser curioso – compreendo eu agora, com a ajuda do corpo. Pouco a pouco, vi-a a reinventar e reenquadrar o significado destas paredes; vi o vazio desta sala dar lugar a uma instalação interactiva, formada por quatro momentos, onde se podiam identificar objectos como walkie-talkies, uma folha em branco e uma caneta esquisita, um Código Morse, entre outros. O que fariam todos estes objectos aqui? O corpo que eu observava (espiava?) pertence a Siri Bengtén, actriz, escritora e encenadora sueca que recebemos no Outono passado, para terminar a sua peça "The Eyes of Mata Hari" (“Os Olhos de Mata Hari”). Na companhia de bolinhos e café, Siri falou-me sobre o processo desenvolvido entre estas paredes, o qual culminou numa “Sala de Espionagem Interactiva”, a apresentação pública que findou os meses de residência.
Ana – Lembras-te da primeira interação que tiveste com o Teatro? De como é que ele apareceu na tua vida?
Siri – Foi muito instintivo, diria. Podia ter sido ideia minha, mas o meu pai era músico e a minha mãe artista plástica, pelo que o facto de ter vindo parar às Artes não é assim tão original; as Artes não são um "filho adoptivo". Ainda assim, antes de mim ninguém tinha ido para Teatro. Acho que [o Teatro] surge logo na escola primária, do facto de nos porem a brincar com outros miúdos e a representar. Fi-lo quando era muito pequena, por volta dos três anos, e dei por mim a pensar: "gosto mesmo disto!" – de fazê-lo e de ter pessoas a olhar para mim enquanto o faço. Eu era terrível em pequena, porque estava sempre a dizer aos meus irmãos ou amigos: "temos de fazer uma peça e mostrá-la!" Obrigava o meu irmão mais novo e toda a gente a fazê-lo comigo. Mais tarde, quando estava no sexto ano, talvez por volta dos 12, a obsessão continuou. Vi o filme “Moulin Rouge” e adorei. Depois, fiz com que todos os meus amigos fossem a minha casa durante um fim-de-semana: íamos fazer a peça e eu ia gravá-la. Então, passei duas noites a ver e a transcrever o “Moulin Rouge”; era pausa, transcrição; pausa, transcrição. Foi muito intenso. Assim que entrei na escola de Teatro, comecei a fazer todas as audições e tudo o que podia e havia por fazer. Era uma verdadeira obsessão. E aqui estou eu, hoje!
Ana – Neste tema da "espionagem", há algum contraponto que desejes criar com a cultura de vigilância em que vivemos?
Siri – Vigilância e espionagem são temas que têm também uma dimensão política, mais séria. Mas, neste caso, houve sobretudo um interesse pela coragem. Quando pesquisei sobre estas espias, uma das questões que mais despertou a atenção foi: "como é que se consegue este tipo de coragem?" É que as vidas destas mulheres sobre as quais tenho estado a escrever e a pensar são espantosas e incríveis, mas também horríveis, porque muitas das espias durante a II Guerra Mundial acabaram muito mal. Elas sabiam que isso ia acontecer – quando foram para a operação, foi-lhes dito que a esperança de vida era de seis semanas. Isto significa que elas iam para a missão sabendo de antemão que provavelmente iriam morrer muito depressa. Comecei a interessar-me mais por um aspecto político actual: a Suécia foi um país muito social-democrata e socialista, mas está a tornar-se mais liberal. Somos historicamente conhecidos por sermos unidos, mas sinto que estamos a tornar-nos muito individualistas. Pergunto-me então se as espias diriam as mesmas coisas, hoje: é que o que fizeram foi um acto tanto nacionalista como anti-nacionalista. Há nisto uma sensação de pertença a algo, e não apenas o pensamento "então e eu e a minha vida?"; era uma mentalidade diferente. É claro que todas elas expressavam uma grande preocupação e ódio contra o regime Nazi – e iam nessa missão em nome das pessoas que estavam a sofrer, e é muito heroico. Foi por essa razão que me interessei pela coragem das espias – por se exporem enquanto mulheres. Nessa altura, escolherias fazer algo simultaneamente tão perigoso e corajoso? E, para mais, numa posição em que as espias nunca tinham tentado antes. E há uma questão que foi muito pouco abordada: estas espias não tinham o mesmo seguro de vida que os homens, porque a ideia era: "[com os homens] se algo de muito mau acontecer, temos um plano para voltar e apanhar-te", ao passo que com as mulheres não havia esse plano. Portanto, o que está em causa é a coragem, mas também o oposto: a fraqueza, quando aceitamos recuar, ser corajoso e fazê-lo. Foi uma decisão, uma escolha.
Adultos que gostam de brincar e de ver
Ana – Sobre a peça "Os Olhos de Mata Hari": quando é que ela começou? Qual foi a primeira coisa que criaste para ela?
Siri – Eu já estava por dentro da História das mulheres – as minhas últimas peças foram sobre a vida e o destino delas. Tenho lido muito sobre as vidas especiais de mulheres ao longo da História. A minha avó (que é muito querida e, diria eu, a maior fã do meu trabalho, muito querida e aquilo a que, na Suécia, chamamos "kulturtant" – "senhora da Cultura", alguém que gosta de Cultura) deu-me um livro que falava de cerca de sete espias famosas, e lê-lo foi muito interessante. A par disso, achei o tema da espionagem muito lúdico – é um tema que já foi trabalhado em muitos filmes, mas que não deixa de estar relacionado com algo misterioso ou que remete para o universo de James Bond. Senti que seria estimulante explorar o tema desta forma, mesmo que estejamos a falar de vidas muito sérias. Não sei se o fazias também em criança, mas lembro-me de gostar de espiar os vizinhos e fazer coisas do género – uma dimensão que também faz parte da peça. Há muito tempo que acho engraçada a ideia de o público ver os actores a fingirem ser outra pessoa. Uma espia também tinha de fingir ter um alter ego, e aqui existe o mesmo tipo de jogo: representamos ou fingimos ser outra pessoa, protegidos de alguém. Ou seja, trata-se também de nos observarmos uns aos outros.
Houve um Verão em que eu, a trabalhar num teatro, olhei para aquelas pessoas adultas e pensei: "são apenas adultos que gostam de brincar!" Perguntei-me: "e o público? São só adultos que gostam de ver!" Eram adultos que gostavam de brincar e de ver, e isso era engraçado. É claro que o Teatro pode ter outros papéis nas Artes e na Filosofia, mas, na sua génese, trata-se de brincar. Vejo muitos vídeos e memes de animais (Shhh! É um segredo meu), e os mamíferos adultos (cães, por exemplo) adoram brincar. Os bebés gostam ainda mais, mas, pensando nos adultos, é tão estranho que estejamos nesta sociedade a tentar fingir que somos adultos bons e rigorosos, quando, na verdade, também somos mamíferos e precisamos de brincar, tal como os mamíferos animais. Somos iguais! Na base, a ideia é essa: abraçar a brincadeira e a diversão. É uma necessidade humana.
“Porque é que é tão difícil agir?
Onde é que estavam os adultos?
Trata-se de encontrar coragem nos outros.”
Ana – "Responsabilidade" é um dos teus principais temas de investigação. Nomeadamente aqueles que são "responsáveis por actuar em tempos de injustiça e terror". Quando o disseste, o povo palestiniano foi a primeira coisa em que pensei. Influenciou de alguma forma a direcção do teu trabalho e do teu pensamento?
Siri – Acabei o primeiro esboço de um guião que estava a preparar no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia. Não sei se aconteceu também em Portugal, mas esta situação levou muita gente na Suécia a parar para pensar: "temos paz há muito tempo, mas, e se isto acontece aqui?" É claro que não é a mesma coisa que o caso palestiniano, mas faz-nos pensar mais sobre o que acontece actualmente. O individualismo é muito complicado: provavelmente só temos uma vida na Terra e queremos aproveitá-la ao máximo, por isso perguntamo-nos: "porque é que eu sou tão importante?" Eu importo-me; preocupo-me comigo, porque é ao fazê-lo que crescemos. Mas sinto que, hoje, é demasiado fácil dar um passo atrás e dizer: "isso não é comigo"; "não tenho nada a ver com isso".
A ironia é que pode acontecer a qualquer pessoa, e é claro que devemos tomar uma atitude e fazer alguma coisa. Porque é que é tão difícil agir? Quando eu era pequena, detestava injustiças – deixava-me muito chateada saber que havia bullies na escola. Em adolescente, se alguém estivesse deitado na rua, eu parava e perguntava: "olá, estás bem?” Lembro-me de ser muito jovem, tentar pedir ajuda a adultos e me aperceber de que ninguém estava a fazer nada. Aos 14 anos tive de chamar uma ambulância. Onde é que estavam os adultos, nesse momento? Portanto, esta peça é sobre uma adolescente que tem um grupo na escola que representa o terror e os bullies. Para a escrever, lembrei-me de como me sentia quando era pequena, e acho que ela reflecte esta pergunta que eu fazia: "se nunca vires um adulto a representar, como é que tu próprio podes representar?" É por isso que a espia vem ajudar esta rapariga: ela tem orientação – não dos pais, mas da espia. Trata-se de ganhar coragem a partir de um ídolo ou de outra pessoa quando não se tem mais ninguém que nos possa mostrar o caminho. De encontrar coragem nos outros.
O lugar da Arte numa sociedade em tempo de crise
Ana – Posso pedir-te que fales um pouco sobre o que representa para ti essa ligação entre Arte e Política?
Siri – Penso que os políticos e as instituições devem dar uma resposta / uma protecção à sociedade, mas a imagem de que todos os artistas têm de ser políticos para ser artistas e que todas as artes têm de ser políticas tornou-se um pouco distorcida. Se eu visse algo que me fizesse querer actuar socialmente, provavelmente ficaria muito feliz, enquanto indivíduo, porque sou uma pessoa muito política, mas é importante que a Arte se separe dessa ideia de ter de haver necessariamente uma ligação com a política. Esta é uma pergunta difícil porque existem linhas ténues: é claro que será diferente se eu estiver diante de uma peça racista. Devia haver mais debates sobre este assunto, porque estamos a falar do lugar das artes numa sociedade em tempo de crise. É difícil pensar que a Arte tem um lugar importante nesse tempo, mas ela também está presente nas histórias que contamos aos nossos filhos ou nas canções sobre os pássaros que cantamos para manter toda a gente calma e segura nestas situações horríveis de guerra. Deve haver um lugar para isso. Hoje vemos as Artes como um privilégio, mas para mim é apenas uma necessidade básica – precisamos de comida, precisamos de água e precisamos das Artes porque precisamos de pôr as nossas mentes a funcionar em condições.
Ana – Estamos quase a iniciar a apresentação pública do trabalho que tens vindo a desenvolver durante este tempo n' A Turma. Como foi este processo, desde o primeiro passo que deste? Quais foram as tuas maiores preocupações e anseios?
Siri – Quando comecei esta peça, tinha uma história muito clara com os espiões e esta rapariga que precisa da ajuda deles, mas interessei-me desde logo por objectos didácticos relacionados com a história da espionagem. Uma vez que, na Suécia, esta peça será dirigida a escolas secundárias e a público de idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, pensei que seria divertido criar esta ligação com os objectos, para não perder o carácter lúdico da peça. Este tema comporta várias dimensões que nos deixam curiosos e quis trabalhar com elas através deste paralelo: o texto tem ocupado o seu próprio espaço, e depois tenho trabalhado com objectos e com a comunicação entre estas duas vertentes.
Queria fazer uma apresentação pequena, mas especial, combinando os objectos e os textos; aproveitar este momento em que o público vem chegando e experimentando para tentar ligar essas duas partes. Quando a apresentar na Suécia, talvez venha a ser diferente, mas entusiasmou-me a ideia de guiar as pessoas com o Código Morse, a tinta invisível e os walkie-talkies. No fundo, é uma brincadeira minha: gosto muito de escape rooms e coisas do género, e, mesmo que esta instalação não se trate de uma, é um espaço onde se pode experimentar algo divertido. Isso cria uma certa tensão e interesse, e daí que tenha desejado combinar estes dois mundos. Faz-nos sentir que estamos a um passo de ser este espião, ainda que se trate de um nível meramente experimental. Talvez pareça muito dramática a ideia de estares a ser um espião da vigilância britânica, mas o objectivo é levar-te numa missão e a pensar: "eu conduzo-te ou tu conduzes-me; eu tenho informações e tu vais obtê-las". Queria jogar com a estética do espião e com esta dinâmica de poder. Trata-se de uma primeira experiência, por isso não sei como é que vai correr. Posso falhar, mas, para mim, mesmo quando estou em palco, este deve ser um espaço para falhar, sempre! Foi sobretudo depois da pandemia que me tornei mais interessada e curiosa em relação às diferentes maneiras pelas quais o público pode chegar a um espaço: não é só sentar-se, ficar quieto e assistir. Na verdade, para algumas pessoas esse é um lugar assustador. É uma pressão. Mas pode ser um momento divertido. É bom "agitar" essa ideia: queria ser mais interactiva e montar as coisas de outra forma.
Ana – E permitir que a audiência faça também parte do processo?
Siri – Sim! É um passo que permite ao público aproximar-se do projecto – mais do que aconteceria se ficasse apenas sentado, a observar. Podemos fazê-lo como eu o tenho feito, e talvez pensar em maneiras completamente novas de o fazer; maneiras que eu ainda não descobri. Por outras palavras, espero que o público me dê algumas impressões sobre o projecto e me diga: "não gostei desta parte", "foi aborrecido", "foi interessante" ou "não percebi este momento" – para mim, essa é a melhor parte: tentar e ver o que acontece.
Ana – "Cooperação" é uma palavra-chave neste trabalho, no qual a condição principal é fazer com que ambos os participantes confiem um no outro. Gostava que explorasses esta ideia; a importância dela.
Siri – Acho que essa é uma parte importante na história: há uma rapariga na peça que não tem coragem porque não a vê em lado nenhum, e precisa de exemplos que a revelem. Depois temos o espião – um superior que nos contacta e vigia. Estas são duas das personagens da peça que são baseadas em duas pessoas reais da resistência política. Elas dizem: "vais estar numa missão e eu vou dar o meu melhor para te proteger e guiar". Uma dessas personagens, Noor, foi traída por uma das pessoas que ela achava que também fazia parte da resistência. Por isso, trata-se também de confiar, de ser suficientemente corajoso para confiar nalguém – mesmo sabendo que não se pode fazê-lo. É realmente assustador não o saber e perguntarmo-nos: "será que estas pessoas se vão virar contra mim?" Não tem de ser tão dramático como se fosse uma questão de vida ou morte, mas... Acho que a lealdade está cada vez mais a perder valor. Sinto que a vontade antiga de ficar com algo ou alguém é realmente forte e bonita; "fazer uma promessa", dizer "vou confiar em ti", "vou tentar manter-te vivo" ou "vou fazer isto". Essa escolha que um ser humano pode fazer é bela e poderosa. Isto é um aparte, mas penso na separação – é tão fácil deixar as pessoas irem embora, e isso é algo a que me recuso; algo que perdemos no compromisso a longo prazo, penso.
Ana – Não é a primeira vez que desenvolves uma criação interactiva – é um formato ao qual já estavas habituada. Como é que ele surgiu?
Siri – Andei numa ‘escola de performance política’ durante um ano, e nela conheci professores maravilhosos. Um deles fez uma experiência em áudio durante uma caminhada, e foi a coisa mais emocionante que já fiz! Havia um percurso pela cidade e os meus colegas iam-me orientando pelo telefone até que eu descobrisse qualquer coisa. Esta dimensão interactiva fez-me perceber que posso trabalhar a Arte desta forma. Deu-se uma espécie de abertura: tenho trabalhado tanto e durante tantos anos com manuscrito, papel, teatro e encenação, que acabei por perceber que o poderia também fazer desta maneira. Lembro-me muito bem desse momento; é uma memória muito forte. Gostei da ideia de brincar com diferentes salas e contextos; de fazer parte da experiência; de me aproximar do projecto de outra forma.
Ana – Regressas à Suécia depois desta apresentação. O que levas do Porto e deste tempo que passaste aqui, n' A Turma?
Siri – Preciso de tempo para pensar em todos estes sentimentos maravilhosos... levarei muita independência e liberdade. Estou habituada a trabalhar em residências artísticas, mas normalmente com a duração de apenas um mês. Dois meses em residência foi algo novo, mais longo. Além disso, tenho estado em diferentes países na Escandinávia, mas nunca tão longe. Foi muito interessante conhecer-me e conhecer o meu trabalho num lugar novo e tão acolhedor, divertido e vibrante, que me preencheu com inspiração, espaço e tempo. Andar pelo rio e pensar sobre ele inspirou-me muito. Há um sentimento muito forte de protecção e proximidade com a água. O Porto é um lugar carregado: há o rio, e depois o oceano, ao fundo. É um lugar com uma energia forte. Isso existe na água e nos movimentos; é uma cidade em movimento. Não é uma correria, mas há qualquer coisa de comovente. É um fluxo de vida.
Ana – Falaste de liberdade e independência. Sentes que foram duas condições importantes no processo de escrita? Como é que se gere a relação entre estar fechado numa sala, a escrever, precisar de sair, e depois voltar?
Siri – Tem sido óptimo vir tantas vezes para esta sala. Durante as primeiras seis semanas de trabalho, sempre que vim para este espaço foquei-me unicamente em escrever para a peça, deixando de parte outros assuntos ligados à residência, como questões administrativas. Portanto, esta sala está directamente relacionada com o sítio onde escrevo. Trata-se de permitir que um espaço seja apenas o espaço da escrita. Mas é importante não passar muito tempo de volta dele. Não sei como é que as pessoas conseguem estar sentadas durante oito horas seguidas, é uma loucura! Eu não o conseguiria. Neste caso, ao longo de oito horas posso parar para, por exemplo, experimentar a tinta invisível, mas passar esse tempo unicamente a escrever seria impossível; demasiado. Também escrevi muito na Biblioteca Municipal, é um sítio muito bonito!
Ana – Então... devo acrescentar a Biblioteca Municipal aos agradecimentos da "Interactive Spy Room"?
Siri – Sim! E o Dona Mira, também. É importante dizer que estou genuinamente muito grata à A Turma por me ter convidado e escolhido, porque tem sido uma experiência e um prazer maravilhosos. É por vossa causa que estou aqui.
«Uma obsessão, de acordo com o meu velho dicionário da Random House, é “alguém ter os pensamentos ou sentimentos dominados de forma persistente por uma ideia, imagem, desejo, etc.” A obsessão pode ser uma ferramenta útil se for uma obsessão positiva. Usá-la é como fazer pontaria cuidadosamente no tiro ao arco.
(...) Aprendi a apontar para o alto. A apontar acima do alvo. A apontar mesmo para ali! Relaxar. Deixar ir. Se apontasses bem, acertavas em cheio. Via a obsessão positiva como uma forma de te apontares, à tua vida, para o alvo escolhido. Decide o que queres. Sonha alto. Avança.»
("Obsessão Positiva", de Octavia E. Butler. Limoeiro Real, pp. 79 – 91. Tradução do inglês por Patrícia Azevedo da Silva.)