No teatro, está tudo à mostra, não existe nada entre o espectador e a performance, é ele o responsável por enquadrar e selecionar a informação que lhe interessa, tornando-se, assim, parte inequívoca da obra final. O cinema e os seus mecanismos criam camadas e fazem essa pré-seleção pelo espectador. O que não entra no campo da câmara não existe no domínio da ficção criada. Nesta casa dos pais usamos o teatro como o espaço da memória e o cinema como o espaço da ficção: três irmãos regressam a casa para um funeral e são forçados a interrogar o ordinário, o banal, o até aqui evidente. Mas talvez não interroguem, talvez o evidente não seja assim tão claro, talvez nem sequer regressem.
© José Caldeira