Uma história de um Homem que não sabe falar – como um recém-nascido - e de como ele é criado e destruído pela forçada aquisição da palavra. “A peça também se poderia chamar tortura verbal”, diz Peter Handke, inspirando-se no caso real do menino selvagem Kaspar Hauser para nos apresentar a sua visão da relação do Homem com a linguagem: uma relação de tortura, dor e coerção. Instrutores, em representação de um discurso – o nosso - criam Gaspar à sua imagem – à nossa imagem. Vozes em relação às quais ele reage gradualmente, em permanente conflito. Gaspar é educado de forma a ser como o próprio discurso: bem-formado e ordenado.
A dramaturgia de Handke vem directamente da náusea, a doença induzida pelas palavras que escapam ao nosso controlo, o sentimento de impotência face à sua vida perversa e independente. Esta náusea é ao mesmo tempo uma consequência da estupidificante verborreia e o início da sua cura.
“Quem é agora Gaspar? Gaspar, agora quem é Gaspar? O que é Gaspar agora? Gaspar, o que é agora Gaspar?”