Em Mulheres - Tráfico — trabalho documental que une A Turma ao Movimento Democrático de Mulheres —, defrontamo-nos com um particularíssimo objecto teatral. Não só pela pungência do tema — ou não fosse este flagelo de iglantónicas proporções —, mas, máxime, pelo jeito cru com que dele se apropinqua. Incomplacente de espírito e letra. Sempre. Sem volteios ou especiais meneios. 11 mulheres, 12 cadeiras, umas poucas folhas de papel e outras tantas garrafas de água. Zero personagens. Dispostas no nada. Simples actrizes expondo tumulares anonimatos. Em trânsito. Contra a insensibilidade. E o espaço da não-arte como revelação. Armados de acre despojamento cénico, Manuel Tur e seus rostos azorragam-nos, assim, a cada sentença — provando como a economia de meios pode bem resultar em acentuada concentração expressiva. E é por isso que, sobre dar voz — que pouco não seria —, MULHERES-TRÁFICO vem a restituir o pundonor de tão desvalidos nomes. Sem dirigismos, bem certo, mas jamais permitindo que deixemos de fazer dessa sua renúncia à ficcionalidade coisa nossa também. Hora da aisthesis.
© Diana Lopes
© Diana Lopes